A construção da parentalidade se inicia bem antes do nascimento do filho. Tem início nos modelos que criamos de maternidade e paternidade. Eles começam a se formar desde muito cedo, a partir das nossas vivencias como filhos.
Assim, desejamos muitas vezes agir como uma cópia do que se viveu com os próprios pais, acreditando cegamente que é a melhor maneira de se criar filhos, ou agindo de uma forma totalmente diferente, enxergando apenas os aspectos negativos e negando qualquer aspecto positivo que possa ter vivenciado enquanto filho.
Esse processo acaba gerando diversas expectativas e idealizações; imaginando por exemplo como o filho será fisicamente, como será a sua personalidade; como os pais serão e como as suas vidas se modificarão para este novo momento familiar. Muitas vezes, sonham em proporcionar ao filho o que não tiveram na sua infância, tanto em termos materiais quanto emocionais. Contudo, a partir do momento que está criança nascer, esses pais se frustrarão.
Muitos genitores apresentam dificuldades para conseguir enxergar os seus filhos reais. pois para ter essa visão é preciso não só vivenciar a frustração, como aceita-la e compreende-la. Dessa forma, criam, a partir dos seus desejos e sonhos, uma imagem de perfeição. Exemplo do tipo de relação que pode se formar é um pai que desejava muito que o filho gostasse de futebol. No entanto, ao força-lo além do que o filho demonstra gostar, a relação vai ficando distanciada desgastada, pobre, carente de afeto, repercutindo negativamente tanto na vida do filho, quanto na do pai.
As expectavas sempre existirão, faz parte da natureza humana sonhar, sendo algo saudável. Contudo, torna-se um problema quando a criança começa a sentir uma cobrança por não ser quem desejavam que ela fosse, gerando culpa. Prejuízos também podem ocorrer para os pais, na medida em que quando não conseguem aceitar a imagem real do filho; se frustram dia após dia, prejudicando a relação.
Os pais são modelos muito importantes para o desenvolvimento das crianças. É através desta relação que iniciam a construção da personalidade. É dever dos responsáveis, incentiva-las e auxilia-las a se desenvolver, através da orientação, do amor e do respeito. Dessa forma, é construída uma base segura para que os filhos se experimentem tendo confiança em si mesmos. Eles precisam ter a certeza de que, independente das escolhas que realizarem, os pais continuarão a ama-los e respeitarão as suas decisões.
Ressalto que, oferecer esse espaço e respeito não quer dizer aceitar incondicionalmente as atitudes e escolhas dos filhos. É importante para o desenvolvimento das crianças/adolescentes os limites e o cuidado. A diferença está na maneira que isso será lidado. Será, por exemplo, repreendido sem nenhuma explicação do porquê, ou será conversado e aconselhado sobre o porquê daquela escolha não ser a melhor?
Criar os filhos não é uma tarefa simples. Envolve se deparar com a imagem real, que é muito diferente daquela que foi sonhada por 9 meses.
Exige muita flexibilidade e capacidade de elaborar o luto referente a perda (inexistência) desse filho tão desejado. Mas também envolve a possibilidade de criar uma pessoa que, inevitavelmente vai frustrar, mas que também vai trazer muitas alegrias e aprendizados.
Ao aceitar as imperfeições, como pais ou como filhos, vivemos uma relação mais leve de cobranças e de culpas. Assim podemos aproximar cada vez mais os laços. Expectativas existirão, mas que sejam para desejar que os filhos sejam pessoas íntegras, respeitosas, responsáveis e que encontrem o caminho que os façam felizes.
Psic. Graziela Dengo – CRP 07/29030
Psicóloga Clínica