EU NÃO POSSO CURAR UMA PESSOA QUE NÃO ESTÁ DOENTE – A CURA GAY E A PSICOLOGIA
Na última sexta-feira, 15 de setembro, um juiz da 14ª Vara do Distrito Federal, concedeu uma liminar que torna legalmente possível que psicólogos ofereçam terapias de reversão sexual, mais conhecidas com “cura gay”. Esta decisão tornou-se uma polêmica que gerou discussões, piadas e memes em todo o país.
Esta liminar determina que o Conselho Federal de Psicologia (CFP), órgão que regulamenta a profissão de Psicólogo, reinterprete uma resolução estabelecida pela entidade em 1999, que proíbe aos profissionais da Psicologia que ofereçam terapias de reversão ou reorientação sexual. Segundo a liminar, o Conselho deve reinterpretar a resolução de modo a não impedir a reorientação sexual. Isso a mantém viva, mas transformada em letra morta (sem validade).
A resolução do CFP nunca impediu que psicólogos discutam com seus pacientes questões sobre sua sexualidade; pelo contrário, essas questões são muito importantes na vida das pessoas e podem ser tratadas em psicoterapia. Assim, o que os profissionais não podem fazer é tentar reorientar homossexuais para diminuir o sofrimento causado pelo preconceito. O problema, como foi apontado pelo presidente do CFP, é da sociedade, não das pessoas:
“O psicólogo precisa abordar essa orientação sexual de modo que um dia isso não seja mais um problema a ser tratado em um consultório de psicologia”.
Freud, o pai da psicanálise, já em 1935, em carta a uma mãe que pedia a cura de seu filho que apresentava comportamentos homossexuais, afirmou que não existe cura para o que não é doença. “A homossexualidade não pode ser considerada uma doença. Nós a consideramos como uma variante da função sexual”, escreveu Freud em um trecho de sua carta. Acrescentou, ainda, que a psicologia poderia ajudar o filho a enfrentar os conflitos, inibições e medos relacionados à sua vida social e pessoal, que podem vir a surgir, proporcionando-lhe mais tranquilidade, paz psíquica e eficiência, mas não pode curá-lo. Por fim, o referido autor ainda afirmou que “é uma grande injustiça e crueldade perseguir a homossexualidade como se fosse um crime”.
Esta mesma postura é defendida pela Associação Americana de Psiquiatria (APA) desde o ano de 1973. No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia proibiu qualquer prática de reversão desde 1999 e trocou o sufixo “ismo” por “dade”; pois o primeiro relaciona-se a quadros de doenças, o que a homossexualidade não é.
Essa mudança ocorre desde o início da Psicanálise e está também relacionada às mudanças na sociedade. Freud e outros pesquisadores mostraram que existiam homossexuais mesmo entre os gregos e os índios e isso era bem aceito. Algumas tribos norte-americanas, inclusive, consideram os homossexuais seres dotados de luz. Isso porque possuem uma alma feminina e outra masculina, que se complementam.
Um estudo de Evelyn Hooker, psicóloga, feito em 1957 com 30 homossexuais e 30 heterossexuais, não encontrou nenhum distúrbio psicológico no grupo homossexual. Esta descoberta negou as crenças psiquiátricas que afirmavam que todos os homossexuais do sexo masculino sofriam de distúrbios psicológicos graves.
Além deste estudo, os relatórios da Associação Americana de Psiquiatria (APA), trazem o estudo de Simon LeVay, que encontrou uma das primeiras evidências biológicas de que os homossexuais já nascem homossexuais. Há uma diferença no cérebro, na região do hipotálamo. Em outra pesquisa da APA, realizada com gêmeos, os resultados demonstram uma variação do comportamento de gênero incomum durante a infância. Ou seja, a orientação sexual é em parte devida à genética. Outra evidência apontada pela APA é a de que pode haver a exposição do feto, durante a gravidez, a alguns hormônios que teriam papel importante na orientação sexual daquele indivíduo.
Deste modo, para a Associação Americana de Psiquiatria, as evidências científicas demonstram que há um forte componente biológico na orientação sexual. A mistura da genética, dos hormônios durante a gravidez e fatores ambientais é que contribuem para a orientação sexual de uma pessoa.
Não existem provas científicas de que qualquer orientação sexual seja uma escolha de livre arbítrio. A homossexualidade não é uma doença, é uma orientação sexual; assim como a heterossexualidade não é o estado de saúde plena. Certamente é uma orientação sexual tão saudável quanto a heterossexualidade ou a bissexualidade.
O que os homossexuais podem encontrar na psicoterapia é ajuda para tratar as consequências emocionais. Em sua maioria, resultantes de preconceitos e pressões sociais devido à sua sexualidade. O que os homossexuais buscam na psicoterapia é a auto compreensão; a autoestima; conhecer a si mesmos e lidar com o mundo ao seu redor. Assim como também o fazem o heterossexual e o bissexual. O psicólogo pode reforçar a aceitação da condição do indivíduo. Assim tendo como consequência, o alívio das dores causadas pelo peso dos preconceitos ou do ambiente em que vive.
A psicologia não pode intervir no que é íntimo de cada um; o que ela pode fazer é interpretar e ajudar o indivíduo a compreender o que representa sua queixa. Essa, muitas vezes está relacionada a conflitos com família e sociedade, devido à sua orientação sexual. Trabalha-se para que a pessoa se aceite, aceite seu desejo; não existe cura para algo que não é doença. Os riscos associados a qualquer tratamento que proponha a “cura gay” podem incluir depressão; ansiedade; isolamento social; problemas de autoestima e suicídio.
Se você sofre devido à sua orientação sexual; se tem dificuldade em lidar com o preconceito, com a violência, com a intolerância; a ajuda de um profissional da psicologia pode ser positiva em sua aceitação; em sua orientação para uma vida saudável, como é direito de todos os indivíduos. Se você se sentir coagido em psicoterapia a mudar sua orientação sexual, procure outro profissional e reporte isso ao Conselho Regional de Psicologia de seu estado. Se você ainda não está com acompanhamento profissional e sente que isso lhe faria bem, entre em contato conosco através desse link para agendar uma Avaliação Gratuita para psicoterapia, com um Psicólogo ou Psicóloga em Porto Alegre. Temos a garantia do melhor atendimento e psicólogos de Porto Alegre altamente qualificados.
Amar não é doença 💗, preconceito, sim!