Tenho observado na prática psiquiátrica e no convívio social com amigos e familiares, a nossa profunda dificuldade em lidar com perdas afetivas.
Em maior ou menor proporção, todos sofremos com a perdas. Sejam elas de objetos, animais de estimação, expectativas pessoais ou incapacidade de alcançar os objetivos traçados e especialmente com a perda de pessoas próximas.
Todas as situações acima referidas exemplificam algum tipo de relacionamento, um investimento de afeto e energia com o qual a pessoa possui forte vínculo. Quando esse relacionamento é rompido ocorre grande sentimento de perda, dor e sofrimento.
Ao lidarmos com as perdas afetivas somos confrontados com nossas próprias frustrações. Investindo amor e cuidado projetamos nossas expectativas e idealizações. Sendo assim, na iminência do dano, ou na perda real, a amargura e a aflição pela falta do objeto idealizado são imensos.
Existem diversos tipos de perdas afetivas. Talvez, a que cause maior dor seja a perda de um ente querido, com o qual compartilhamos o convívio diário, os planos futuros e no qual projetamos nossa “imortalidade presumida”.
O desgosto dessa perda é difícil, pois precisamos encarar também nossas fragilidades. O ideal seria à pessoa atingida enfrentar o luto com recursos individuais, apoio familiar, psicoterapia, entre outros.
Contudo, de maneira equivocada, muitas pessoas acreditam que não falar sobre assuntos tristes seria a forma mais adequada para esquecer e sublimar esses sentimentos. No entanto, essa atitude só aumenta o problema. Fazendo isso você esták impede que a pessoa reorganize seus anseios de maneira mais benéfica para dar continuidade à vida.
Decifrar sentimentalmente a perda é um desafio. De maneira que, compreender o papel do luto, significa dar sentido à lesão da pessoa enlutada para que ela possa seguir em frente.
Não é fácil superar perdas afetivas. Tampouco se pode compará-las com a de um indivíduo ou de outro, pois cada um sente e reage individualmente.
Todavia, como saber quando alguém está necessitando de ajuda?
Façamos o raciocínio inverso. Inicialmente, observamos o comportamento da pessoa anterior ao do fato que causou a perda. Logo após, analisamos o seu comportamento posterior. Importante destacar que é absolutamente normal, durante determinado período, a pessoa apresentar certa angústia ou frustração, ao ponto que modifique o seu temperamento, atitudes e tarefas diárias.
Esse tempo irá variar de pessoa para pessoa, caso a caso. Os períodos de lutos, no geral, costumam prolongar-se mais.
Entretanto, se esse padrão de comportamento considerado atípico para aquela pessoa tornar-se permanente; estaremos diante de um quadro de eminente necessidade de intervenção médica e psicológica.