Você já se pegou com aquela dificuldade de tentar outra vez, recomeçar? Um desânimo ou pensamentos negativos que invadem a mente: “não vai dar certo, não sei como fazer diferente…”?
No decorrer da vida, as pessoas passam por momentos de questionamentos e de perdas, que fazem com que elas repensem seus pensamentos e seus comportamentos. Muitos não gostam dos rumos que suas vidas estão tomando, da maneira como se relacionam com os demais ou, ainda, tiveram perdas significativas, seja de pessoas, seja de posições sociais, seja de empregos, etc.
Estes momentos fazem com que muitos precisem recomeçar, muitas vezes do nada. Quem perde um emprego, precisa buscar um novo trabalho; quem perde um ente querido ou uma relação, precisa se acostumar com a ausência da pessoa e viver sem aquele contato; quem se questiona, precisa encontrar novos meios de agir e de pensar.
Não é fácil recomeçar, mas não é impossível. É preciso disciplina e capacidade de perceber a vida de outro modo. Como se faz isso? Aos poucos, com pequenas mudanças de comportamento.
Para recomeçar, é preciso que o indivíduo se posicione de modo diferente daquele que está acostumado diante dos mesmos problemas; é preciso sair de sua zona de conforto; é preciso excluir de sua vida o que não faz bem; é preciso parar de se colocar em posição de vítima e encarar a vida como ela é. É preciso se reconhecer, perceber seus erros e acertos e, acima de tudo, desejar o recomeço.
Quando o indivíduo sente que precisa começar tudo de novo, se reconstruir do zero, é preciso que ele mantenha a calma. Entrar em pânico e perceber as coisas como ruins ou como punições são paralisantes e não levam a lugar nenhum, pelo contrário, causam angústia e tristeza. É preciso que ele perceba a experiência de modo positivo, como uma nova oportunidade de fazer sua vida de modo mais saudável e feliz.
Para mudar o comportamento e os pensamentos, é preciso parar e olhar para dentro de si mesmo, ficar sozinho, muitas vezes, e buscar dentro de si aquilo que se deseja. Mudar é um processo, não acontece do dia para a noite e, muitas, vezes, há recaídas. Como em todas as mudanças, retornar ao comportamento e pensamento conhecidos é comum, pois eles fizeram parte da vida da pessoa por muito tempo. A primeira coisa que se pensa e que se faz é aquilo que se conhece e evitar agir e pensar desse modo é parte do processo.
Algumas dicas podem ajudar neste momento. Elas podem servir de guia para a disciplina e o cuidado com o novo:
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Aceitar-se: aceitar a si mesmo é um passo difícil, porém, importante. Ao olhar para si e perceber os pontos positivos e negativos, o indivíduo percebe o que precisa mudar, o que pode manter e cria a capacidade de aceitar os outros;
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Aceitar a mudança: não se pode ter medo de mudar. A posição que se conhece é aquela mais segura, sempre. O novo é nebuloso e inseguro, mas sair desta posição pode ensinar muito e fazer com que a vida se torne mais feliz. Como diz a frase de Grace Hopper: “um navio está seguro no porto, mas não é para isso que os navios foram construídos”;
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Criar novos hábitos: quando se deseja mudar, ou quando é preciso fazê-lo, é importante que se crie novos hábitos e rotinas, pois os antigos já não têm mais espaço. Iniciar uma atividade física, um curso, mudar de emprego (se possível), rever a dieta, o sono, o lazer, rever a maneira com que se relaciona com os demais e fazer algo diferente são dicas simples e preciosas que podem dar novo “ar” à vida;
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Saber que ninguém é um produto acabado: as pessoas aprendem ao longo da vida, pois não nascem prontas e estão sempre em mutação. Cada contato com outras pessoas e cada nova experiência traz novos aprendizados e deixa sua marca;
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Ter paciência: reconstruir a vida não é tarefa fácil, pois exige força interior, coragem e confiança. Não é fácil construir estes alicerces, por isso, é preciso aprender a ter paciência consigo, a ser mais flexível e a se amar;
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Acreditar: acreditar não é só sinônimo de ter fé, é pensar que o universo conspira a favor de cada um, que tudo aquilo de bom que se faz retorna como algo bom, mesmo que isso não aconteça de modo imediato. Se for uma pessoa de fé, acredite em um ser superior que está atento a você, que te protege e que te guia;
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Confiar em si mesmo: acreditar em si e no seu potencial. Cada um tem suas particularidades e podem alcançar seus objetivos. Não há limites para aqueles que acreditam em si;
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Ter coragem: desfazer-se dos medos, das desculpas e das limitações e ir com coragem para o centro da sua vida. Viver cada momento como se fosse único e dar o melhor de si, aproveitar o momento, as pessoas, as oportunidades. Permitir-se errar e fracassar, pois isso é parte da vida;
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Ser grato: agradecer as pequenas coisas do dia a dia. Agradecer os pequenos gestos, as pequenas vitórias; agradecer, mesmo que ainda não seja tudo aquilo que deseja ou que a mudança não esteja completa;
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Pensar em como gostaria que fosse sua vida. Imaginw como gostaria de ser, como gostaria de agir e como gostaria de viver. Construa sua vida a partir destes pensamentos e desejos.
Não existe uma fórmula que sirva a todos no processo de recomeçar. Cada um sabe o que quer e o que precisa. Por isso, estas dicas servem como um guia para o processo.
Recomeçar pode ser um desejo ou algo imposto pelas circunstâncias da vida. De qualquer modo, é preciso desejar recomeçar. Ninguém deve recomeçar por causa de outro, por causa dos desejos de outra pessoa. Cada um é único e, mesmo que recomece, mesmo que mude, sua essência não mudará.
Se você está com dificuldade de recomeçar e acredita que precisa de ajuda, procure um psicólogo; ele poderá te ajudar neste momento. Lembre-se de que recomeçar não é fácil e muitas vezes requer a escuta atenta de outro para auxiliar neste processo.
Por Anne Grizza – Psicóloga da Equipe Psicotér