Mudanças são, em sua maioria benéficas, não é?
A troca de profissão, por mais trabalhosas que seja, tem resultados normalmente positivos, com novas formas de encarar a vida, aprendizados novos e, até, novas amizades.
Quando uma pessoa escolhe uma profissão, tem-se em mente que ela continuará nela por toda a vida. Isso acontece porque, culturalmente, quando alguém opta por algum caminho neste sentido, a tendência é permanecer nele. Há um entendimento de que a carreira não muda, ela ascende no decorrer da vida das pessoas.
O que tem acontecido há algum tempo é que muitas pessoas têm optado pela troca de profissão, têm escolhido por exercer atividades diferentes daquelas que se propuseram quando tinham 16, 18 ou 20 anos. Há um fenômeno em curso, no qual as pessoas sentem-se livres para mudar, para tentar novos caminhos, para trabalhar com aquilo que gostam.
Na administração, utiliza-se o termo “carreira sem fronteiras” para denominar esta nova forma de pensar sobre a profissão. A ideia de que as pessoas seguirão sempre uma linha ascendente em suas carreiras já não é mais a única. Há o entendimento de que as experiências e a maturidade podem levar as pessoas a quererem mudar suas vidas, fazer o que realmente gostam e aquilo que acreditam que realmente tenham aptidão; assim, podendo haver a troca de profissão.
Só que a troca de profissão ainda gera muitos questionamentos. Decidir mudar de profissão não é tarefa fácil. É preciso lidar com seus sentimentos, com suas inseguranças e medos, pois, sim, mudar dá medo. Além disso, muitas vezes, as pessoas acabam precisando enfrentar as expectativas e decepções dos demais, os medos e as inseguranças das outras pessoas.
Somos seres relacionais e, por isso, nossas decisões também são permeadas pelas opiniões dos outros. E é aqui que a troca de profissão enfrenta um de seus desafios.
Quando um filho diz à sua mãe que vai largar um cargo público para empreender, ou uma esposa diz que vai abandonar uma carreira na área de jornalismo para vender seus bolos, ou uma mãe diz que vai fazer uma nova faculdade, pois a escolha feita antes não faz sentido, eles enfrentam os sentimentos e pensamentos de seus pares. Estas pessoas, muitas vezes, são as que vão fazer com que mudar seja ainda mais complicado.
Para lidar com as expectativas e decepções dos demais é preciso saber escutar. Todas as pessoas ao seu redor terão uma opinião sobre a sua decisão. Estas opiniões são baseadas em suas crenças e experiências de vida. Mesmo que você não vá levar a cabo as opiniões dos outros, escute-os. Desse modo, você também poderá ponderar e pensar de modo mais racional sobre sua escolha.
Colocar suas ideias de maneira concisa e segura pode ajudar os demais a sentirem-se seguros com sua escolha. Mostrar a elas que sua decisão é o melhor pra você, que você está preparado para mudar e que sente-se infeliz com a vida que leva é um bom modo de mostrar aos demais que sua decisão não é baseada em um pensamento mágico.
Ah, mas eu não preciso que ninguém me dê sua bênção para a troca de profissão! Na verdade, conscientemente, não; porém, muitas vezes, ir contra todo mundo pode gerar o sentimento de que é preciso dar certo, de que é preciso mostrar aos outros que a melhor decisão foi tomada. Este processo pode gerar inseguranças futuras, pois, como dito, as mudanças são trabalhosas e os percalços podem acontecer. Quando a pessoa mudou, mesmo que com o mínimo apoio de seus pares, sente-se mais segura quando os revezes acontecem.
Mas, então, eu nunca vou mudar, pois sempre terá alguém que não vai me apoiar! Realmente, nada em nossa vida é unanimidade. O que foi dito aqui é para tentar manter o diálogo e entender que os demais podem ficar preocupados com o processo e com seu futuro. Manter a mente aberta para as opiniões não significa desistir de suas ideias.
Mudar é importante e muitas vezes necessário. Para lidar com os sentimentos dos outros, é preciso estar seguro do que você deseja. Além de vontade de fazer algo diferente, é importante conhecer a nova profissão, o mercado, qual a necessidade de aprimoramento, quais os caminhos que as pessoas estão traçando ou o diferencial que você pode oferecer.
Lembre-se que recomeçar é começar do zero, é batalhar mais uma vez para que as coisas deem certo. É saber que, mesmo quando fazemos algo que gostamos muito, terão dias de insatisfação, de insegurança e de dificuldades. As outras pessoas podem se opor. No entanto, no momento em que você estiver seguro do que está fazendo; quando sentir que a mudança foi antes interna do que externa, terá mais força para mostrar a que veio e mais vontade de seguir adiante.
Psic. Anne Grizza – CRP 07/13524
Psicóloga, Mestre em Administração com ênfase em Gestão de Pessoas