A perda de um familiar é um dos maiores medos do ser humano e ninguém gosta de cogitar essa possibilidade. Entretanto, dificilmente podemos evitar de nos depararmos com essa situação, a não ser que tenhamos uma vida curta.
Desde cedo aprendemos a negar sua existência, como se essa atitude pudesse distanciar a morte de nosso encalço. Apesar da natureza nos dar provas constantes da finitude dos seres, fechamos nossos olhos para os seus sinais; deixamos de aprender a lidar com as perdas.
Não raro uma mãe troca o peixinho morto do aquário por outro semelhante, vivo, para que sua criança não sofra. Da mesma forma, quando um familiar morre, na maioria das vezes as crianças são poupadas de irem à cerimônia fúnebre e se depararem tão cedo com algo doloroso.
Atitudes como essas, no entanto, contribuem para que a morte seja vista como um tabu, como algo que não possa ser comentado, nem vivenciado, de forma que, quando nos deparamos com a perda abrupta de alguém que amamos, não sabemos lidar com a dor e os sentimentos desencadeados em nós.
Assim como evitamos falar sobre a morte antes dela acontecer, temos a tendência de nos calarmos também quando ela já ocorreu. O que é um grande equívoco, pois falarmos sobre nossos sentimentos é um dos processos que nos ajuda a superar a dor.
A forma como damos a notícia da morte de alguém é igualmente muito importante. Devemos ter em mente que a notícia abalará a pessoa e, portanto, evitar de fazer isso por telefone. Porém, quando não temos opção, pelo menos devemos averiguar se há alguém junto à pessoa para lhe dar apoio.
É prudente evitar de dar a notícia de forma direta. O melhor a fazer é ir soltando a notícia aos poucos, para que dê tempo da pessoa ir assimilando. Como naquela estória “O gato subiu no telhado”… Não falar que fulano morreu. Começar falando que aconteceu um acidente. A pessoa perguntará qual a gravidade do acidente, então devemos falar que foi sério, que a pessoa está no hospital e assim por diante.
No caso de crianças, é muito comum as pessoas mentirem que o falecido está viajando, por exemplo. Devemos evitar mentiras, porque as crianças são sensíveis e percebem que há algo errado. Elas sofrem em silêncio e também deixam de confiar nos adultos.
Crianças muito novas (até 3 ou 4 anos) não entendem a questão da irreversibilidade, de forma que a ideia de morte é muito abstrata para elas entenderem. É possível que perguntem muitas vezes onde está o falecido. Devemos explicar que elas não verão mais aquela pessoa e é compreensível que chorem, sintam raiva, fiquem tristes. É importante que tenham apoio e que possam falar de seus sentimentos e medos.
Precisamos ter muito cuidado com os adolescentes, pois tendem a se isolarem e guardarem seus sentimentos para si. Uma perda nessa fase da vida pode ser traumática, pois a adolescência já tem suas próprias dificuldades e dúvidas e é uma fase em que temos muitos embates com os pais e irmãos, de forma que a morte de algum deles pode gerar muita culpa e, caso não receba apoio, o adolescente pode procurar alívio em drogas ou até cogitar a possibilidade de tirar a própria vida.
Quando perdemos alguém, temos certeza de que jamais superaremos a perda. Entretanto, com o tempo aprendemos a lidar com sua ausência. Isso não significa que esquecemos esse alguém, mas que a dor vai se tornando suportável e que, aos poucos, nossa vida vai entrando novamente nos eixos e podemos vislumbrar o sentido em seguir em frente.
Cada pessoa viverá o luto no seu tempo, não podemos apressar o processo. Podemos, sim, com amor, atenção e respeito, darmos ouvidos às suas angústias, estarmos presentes na sua vida e ficarmos atentos a quaisquer tentativas de isolamento, de falta de cuidados com sua saúde, abuso de álcool ou de outras drogas e atitudes que possam se colocar em risco de morte.
É muito importante que o enlutado possa dar vazão às suas angústias, para que essas não fiquem reprimidas e a perda se torne um trauma. Existem casos em que é necessária a ajuda profissional para que a pessoa consiga se reestruturar e sair da depressão.
Por Sandra Arreal – Psicóloga da Equipe Psicotér
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