Sentimento de Raiva é um dos mais primitivos do ser humano. Sua função primordial é gerar movimento, gerar uma ação no sentindo de mudança. Quando sentimos raiva, essa emoção nos aponta que há algo errado e sua energia serve de impulso para que mudemos esse algo.
No passado, a esse sentimento nos impulsionava a nos defendermos das ameaças reais, como animais predadores, por exemplo. A energia gerada pela raiva fazia com que fossem estimulados em nosso corpo hormônios que nos instigavam a lutar. Naquele contexto, esses hormônios, como a adrenalina, estavam a nosso favor e faziam a diferença entre vivermos ou morrermos.
Nessa época, o ser humano desfrutava de amplo espaço na natureza para seu convívio com as poucas pessoas que faziam parte de seu clã. Por mais obrigações que havia, as pessoas podiam se dar ao luxo de se afastar quando não lhe agradavam determinadas atitudes de seus companheiros.
Vida em sociedade e o sentimento de raiva
No entanto, com o passar dos séculos, fomos nos civilizando e o nosso contato com pessoas foi aumentando. Assim, dificilmente respeitamos nosso limite de individualidade. Precisamos conviver com estranhos diariamente em nosso trabalho, nos meios de transporte e nas ruas. Até mesmo, em nossas casas, que estão cada vez menores e sendo divididas com mais pessoas.
Além disso, as ameaças, que antes eram predominantemente reais, hoje passaram a ser irreais. Tememos o desemprego, a velhice, a solidão, a morte, a rejeição, dentre outros medos que povoam nossa cabeça. Às vezes, tememos o próprio medo. Medos que não têm uma forma, que são impalpáveis, mas que, no entanto, geram em nós a mesma raiva antes gerada pelo medo de ser devorado por um animal.
Da mesma forma que os medos imaginários geram em nós estresse e raiva como as ameaças reais do passado, o impulso para se defender também é igual, de forma que quando ameaçados sentimos vontade de lutar, de nos defendermos. Entretanto, as consequências de agirmos com violência física ou verbal, estão longe de serem consideradas civilizadas. Essas reações já não estão mais a nosso favor.
Comportamentos saudáveis
Se antes a luta era a melhor escolha, hoje o mais sensato e saudável é prestarmos atenção em nós mesmos e entendermos o que nos causa raiva. Quando percebemos que o externo apenas reflete nossos medos mais profundos, passamos a compreendê-los e os enfrentarmos até que, aos poucos, eles deixam de aflorar na forma de raiva e tristeza.
Medo e raiva são, pois, os dois lados da mesma moeda. Quando sentimos que não temos controle sobre a situação que se apresenta à nossa frente, sentimos medo e a raiva é uma tentativa de recuperar esse controle perdido. Essa energia da raiva é como alguém nos gritando “faça alguma coisa”!
Esse fazer algo, no entanto, passa a ser saudável quando não traz prejuízos para nenhum dos envolvidos. Bater, dar chutes e falar palavras agressivas pode parecer as melhores opções no calor do momento. Entretanto, quando a raiva passa, fica o arrependimento; as contas do prejuízo, os relacionamentos rompidos e, muitas vezes, cicatrizes e perdas irreparáveis.
Entenda como lidar com o sentimento de raiva
Essa emoção repercute muito no físico em função da atuação dos hormônios secretados no corpo. A adrenalina age como uma bomba de energia que atua muito rápido, fazendo o corpo passar do relaxamento à tensão em segundos. O coração bate mais rápido, acelerando pulmões e fluxo sanguíneo, de tal forma que acontece o dilatamento das pupilas e a sensação de força nas extremidades.
Essas reações, conforme vimos antes, predispõem à luta porque no passado nos preparavam para enfrentarmos as ameaças. Entretanto, existem outras formas de colocarmos a raiva para fora. Uma delas é correr. Percebeu o sentimento de raiva? Corra. Correr, pular, bater numa almofada, ter um saco de pancadas em casa, são algumas opções de descarga física que não trazem prejuízos e que são tão eficientes quanto a luta.
Outras estratégias que descarregam o sentimento de raiva são: chorar; escrever; rasgar papel; dançar; nadar; exercícios de relaxamento. Devemos evitar, no entanto, estratégias tais como uso de álcool ou de outras drogas. Além de serem autodestrutivas, podem desencadear em nós reações agressivas.
Qual o motivo da raiva?
É importante, assim que o sentimento de raiva passar, analisarmos o porquê de ela ter surgido. O que pensamos logo após a situação que gerou em nós esse sentimento? Qual o medo estava por trás? Essas perguntas são importantes para identificarmos nossos medos. Quanto mais conscientes nos tornamos deles, menos raiva sentimos.
Por trás do sentimento de raiva, geralmente se encontram medos de perda (do respeito, da autoridade, do amor do outro, da admiração). Quando nosso ente querido está numa situação de perigo eminente, muitas vezes o medo de perdê-lo desencadeia em nós a raiva, como forma de lutar e protegê-lo.
Além do medo, é comum percebemos sentimentos de culpa, de fracasso, de vergonha, assim como mágoa por algo ou alguém. Por isso, é muito importante a análise do que nos leva a estar constantemente sob o domínio da raiva. Dessa forma, podemos lidar com esses sentimentos subjacentes evitando o desgaste e todas as outras consequências geradas por esse sentimento tão comum.
Psic. Sandra Arreal – CRP 07/12064
Psicóloga Clínica, em formação em Técnicas de Revivência Transpessoal