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Angústia ou Borderline?

Marilyn Monroe foi um ícone de beleza e fama. Porém um conjunto de características em sua personalidade mostra um comportamento carente, instável e imaturo. Alguns estudos psicológicos equivalem sua extrema agonia ao transtorno de personalidade Borderline.

A atriz americana povoa até hoje o imaginário popular. Sua morte precoce, envolta em mistério, serviu para fortalecer ainda mais a ideia do mito. Marilyn era vista como dona de uma personalidade imatura, carente, instável e excessivamente sedutora; somada a uma autoestima baixa e constantes comportamentos autodestrutivos; chegando a receber, por parte de alguns psiquiatras, o diagnóstico de personalidade Borderline.

Diagnóstico esse que foi introduzido na década de 1930, caracterizando-se pela notável instabilidade no funcionamento. Através da revisão de literatura, foi feita uma análise da personalidade de Marilyn, comparando-a aos critérios diagnósticos do transtorno de personalidade Borderline (TPB). O estudo confirmou a possibilidade do referido diagnóstico. Embora, outros tenham sido levantados reafirmando que, independentemente das classificações, o fato é que Marilyn apresentava uma personalidade com um lado saudável e um outro muito doente que se sobrepunham com frequência e que em toda sua vida repercutiu numa série de comportamentos disfuncionais que acabaram por levá-la à morte.

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Desde criança, Marilyn sonhava em se tornar uma grande artista. Começou fazendo fotos, depois pequenos papéis, até passar a ser reconhecida por seu visível talento para a comédia, embora também tenha surpreendido a crítica nas vezes em que se arriscou em papéis dramáticos.

Casou-se pela primeira vez aos 16 anos, com Jim Dougherty, separando-se poucos anos depois. Mais tarde, casou-se com o famoso jogador de beisebol americano, Joe DiMaggio. E, por fim, foi casada com o dramaturgo Arthur Miller. Seus relacionamentos foram marcados por sua constante necessidade de aprovação e atenção. Um fato curioso é que tinha o hábito de chamar todos os seus maridos da mesma forma: “Daddy”, papai em inglês.

Ao mesmo tempo em que demonstrava certa dependência emocional nas relações, paradoxalmente costumava ser extremamente sedutora, chegando muitas vezes a ser infiel. Durante seus casamentos e no intervalo entre uma relação mais estável e outra, Marilyn teve inúmeros casos amorosos. Alguns viraram escândalos, como o que teve com o ator Yves Montand, durante as filmagens de Adorável Pecadora (Let’sMake Love) – ambos eram casados. Enorme repercussão também teve o caso com o ator Tony Curtis. Na época, Marilyn engravidou. Curtis afirma ter certeza de que o filho era dele e não de Arthur Miller, com quem era casada. Contudo, ela sofreria um aborto espontâneo logo depois.

Porém, dentre todos os seus casos, sem dúvida o que mais repercutiu foi o que teve com o então presidente americano John Fitzgerald Kennedy (JFK). Ele, conhecido pela infinidade de relacionamentos amorosos que costumava ter, viu em Marilyn apenas a possibilidade de mais uma conquista.

Ela, porém, apesar da relação fugaz que tiveram, após perceber a rejeição de JFK – que simplesmente parou de atender seus telefonemas –, desenvolveu uma espécie de obsessão em relação a ele: ligava incansavelmente para a Casa Branca, mandava-lhe bilhetes, procurava notícias através de seus irmãos e continuava a falar, nos diferentes lugares que frequentava, de forma apaixonada, sobre o caso que tiveram, e que ela afirmava ainda terem. Tal comportamento chegou a ser denominado de “obsessivo” por aqueles que acompanharam mais de perto o desenrolar da furtiva relação.

Aparentemente, por não mais suportar a rejeição a qual era submetida por JFK, Marilyn tomou uma superdose de remédios, tendo que ser, mais uma vez, internada para desintoxicação. Aliás, essa era uma prática comum na sua vida: uso abusivo de álcool e remédios como forma de lidar com as frustrações que, no seu caso, ocorriam sempre quando era criticada, rejeitada, decepcionada, magoada.

Por seus maridos, assim como pelas pessoas com quem conviveu mais intimamente, era vista como um paradoxo: frágil, mas ao mesmo tempo manipuladora; carente, mas volúvel; sedutora e meiga, porém calculista; ora uma criança que necessitava de proteção, ora uma mulher mimada e maquiavélica.

Com o cantor Frank Sinatra, teve um caso durante muitos anos. Diz-se que ele foi apaixonado por ela, porém se incomodava com sua frequente necessidade de atenção – considerava Marilyn excessivamente dependente emocionalmente, fato que dizia não suportar. A instabilidade dos relacionamentos afetivos acabava por repercutir no trabalho de Marilyn, sendo responsável por seus atrasos e faltas.

Transtorno Borderline:

Etimologicamente, o termo personalidade originou-se de “persona”, que é a máscara usada pelos personagens do teatro grego.

O termo personalidade é usado para ilustrar o comportamento do indivíduo, assim como suas idiossincrasias. Na tentativa de descrever a personalidade do sujeito, podemos utilizar adjetivos com significado psiquiátricos, como personalidade passiva ou agressiva; ou adjetivos do cotidiano, como personalidade ambicional ou amigável.

As bases do desenvolvimento da personalidade estariam na hereditariedade e no ambiente que irão interagir, formando um indivíduo único. Os diferentes padrões de comportamento utilizados na hora de lidar com as situações vivenciadas refletem características típicas de determinados tipos de personalidade. Porém, um exagero nesse padrão pode levar ao desenvolvimento de um transtorno de personalidade (TP), cujos traços são rígidos e mal-adaptativos, levando ao comprometimento do desempenho e/ou sofrimento.

Segundo a psicóloga americana Marsha Linehan, professora da Universidade de Washington, os pacientes borderlines seriam o equivalente psicológico dos pacientes que sofreram queimadura de terceiro grau, ou seja, não têm proteção emocional, e isto faria com que estivessem sempre susceptíveis à extrema angústia.

A instabilidade talvez seja a característica mais evidente do transtorno. Esses pacientes tendem a oscilar afetivamente, rapidamente. Ora estão com raiva, no momento seguinte estão apavorados; depois impulsivos, de repente frágeis; a ponto de darem a impressão de que são pessoas diferentes. Isso os difere de pacientes mais saudáveis, que costumam oscilar o afeto com menor frequência e intensidade. Além disso, quando oscilam de um afeto a outro, os pacientes saudáveis mantém uma espécie de meio-termo entre eles. É como se um afeto moderasse a intensidade do outro; algo que não ocorre no TPB, pois um afeto parece totalmente dissociado do outro.

As relações que o borderline estabelece têm como cerne o desejo de ser amado. Isso acaba por levar à dependência no aguardo de satisfações positivas e de proteção. Pode ser uma pessoa, mas pode também ser um grupo, uma ideologia ou um produto de substituição, quando a precedente falta.

O Diagnóstico de Marilyn:

O Dr. Ralph Greenson, um dos psiquiatras de Marilyn, descreveu a atriz da seguinte forma: “É como uma adolescente abandonada, imatura, borderline”. Em carta, escrita para Anna Freud, acrescenta: “Paciente borderline, com distúrbios paranoides. Doente grave.

Ao observarmos a personalidade de Marilyn Monroe, refletida na maneira como funcionou ao longo de sua vida, a hipótese de enquadrá-la como sendo portadora de TPB torna-se possível. No entanto, se olharmos os critérios dos transtornos de personalidade dependente, assim como histriônico, talvez também pudéssemos associá-los a ela. Todavia, independentemente de seu diagnóstico, Marilyn parecia ter uma personalidade com um lado saudável e com outro muito doente, que se sobrepunham com frequência.

No final, fica a certeza de que ela não teve tempo suficiente de aprender a lidar com a carência e o vazio de uma forma adequada; adotando ao longo da vida apenas maneiras disfuncionais de fugir do que a angustiava, principalmente através das relações amorosas e do uso abusivo de álcool e remédios.

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