Dois amigos se encontram. Em cinco minutos, um fica sufocado e sem palavras ao ouvir as queixas do seu interlocutor.
Queixas relacionadas a seus pais, seu irmão, a falta de trabalho, a falta de namorada, o péssimo serviço público de saúde, a falta de respeito dos seus vizinhos e as medidas arbitrárias que o governo adota.
Existem situações na vida que, sem sombra de dúvida, merecem suas queixas como uma reação normal; para liberar tensões acumuladas pelo evento em si. A perda de um familiar próximo, perder o emprego por um corte de pessoal; um divórcio; uma doença grave, são experiências dolorosas pelas quais uma queixa pode despertar a nossa empatia. Contudo, algumas pessoas fazem das queixas o seu pão de cada dia. Além disso, pensam que todas as “boas pessoas” do mundo estão obrigadas a ouvir repetidamente esses lamentos porque, do contrário, demonstrariam que são insensíveis ou egoístas.
Viver na atualidade não é simples. Permanentemente somos bombardeados por notícias, na sua maioria dolorosas ou preocupantes. Além disso, precisamos tolerar chefes mal-humorados ou colegas chateados. Sem contar as problemáticas pessoais às quais estamos expostos, como as perdas, as doenças e um monte de outras situações que muitas vezes chegam a ser asfixiantes.
Diante deste panorama, em geral, temos duas opções: Analisar cada situação e procurar a saída mais adequada ou resistir e adotar a posição da queixa. O que é preocupante desta segunda opção é que se transforme em um hábito, que limita as nossas potencialidades e gera uma atitude negativa naqueles que nos rodeiam. Poderíamos pensar que queixar-se é um tipo de desabafo frente às pressões e talvez em alguns momentos cumpra esta função. Contudo, a queixa pode se transformar, sem percebermos, em um costume que repetimos. Assim como um círculo vicioso e que com o tempo se torna a resposta automática diante das dificuldades.
Segundo pesquisas realizadas por vários neurocientistas, o cérebro sofrerá mudanças significativas de acordo com a freqüência e intensidade emocional com a qual nos queixarmos. Isto se deve ao fato de que, durante esta condição de frustração e impotência constante, o cérebro libera hormônios como a noradrenalina, cortisol e adrenalina que acabam por alterar o funcionamento normal deste órgão. Alguns cientistas afirmam, inclusive, que estar exposto de forma constante à queixa deteriora ou elimina as conexões neuronais presentes no hipocampo do cérebro. Essa é precisamente a área encarregada de encontrar soluções para os problemas que nos afetam.
A insistência na queixa é uma forma de nos condicionarmos negativamente; gera rejeição nos outros e acaba por deteriorar nossos relacionamentos familiares, amorosos ou profissionais. É um condição de dependência e, portanto, de imaturidade e de passividade diante dos problemas.
Mas o que podemos fazer? As coisas dificilmente serão como nós queremos que elas sejam. Então por que se frustrar e se amargar pelo que não irá mudar, pelo que escapa do nosso controle? Assim, não seria mais lógico ter uma atitude mais flexível e assumir um comportamento mais adaptável? A energia usada para se queixar é a que precisamos para superar a adversidade. Modificar este tipo de conduta sempre será uma opção. É verdade que, diante de certas situações, é saudável reclamar; é um direito do qual devemos fazer uso porque também faz parte de nossas alternativas e fortalece a nossa autoestima, mas não podemos deixar que se torne algo crônico.
Para superar este hábito tão desgastante de se queixar é importante começar analisando os problemas com a cabeça fria e avaliar o que pode ser feito, como e quando. Aprender a interpretar as coisas de forma diferente, menos autodestrutiva e mais propositiva. Não temos a intenção de mudar o mundo de todos, mas façamos um esforço para melhorar o nosso. Existem situações nas quais a queixa se transforma em uma estratégia consciente ou inconsciente de manipulação. O infrator experimenta a culpa e a forma de disfarçar tal culpa é despertando no outro sentimentos de compaixão ou de solidariedade, para não ter que enfrentar a responsabilidade e as consequências dos seus atos.